sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Pintura Romana

Pintura da Roma Antiga
Na transição da República para o Império a pintura romana já havia consolidado e desenvolvia um estilo próprio, afastando-se do cânone greco-helenista. Da pintura feita na República praticamente tudo se perdeu. Foi o conjunto de Pompeia e Herculano, pintado em sua maior parte já sob o Império de Augusto, que deu as bases para se estabelecer uma divisão da pintura romana em quatro períodos ou estilos, extrapolando-se os conceitos, um tanto arriscadamente, dali para o restante do território romanizado. Sabe-se que o estilo metropolitano encontrou bastante resistência para se implantar em alguns pontos no Oriente, e ainda mais no norte da África, onde não se encontrou nada de significativo. Mesmo assim Ling acredita que o critério permanece válido, pois diz que os testemunhos que têm vindo à luz em outras áreas da Itália além da Campânia e do Lácio e em províncias distantes mostra que as modas da metrópole cedo ou tarde foram assimiladas pelos centros regionais na maior parte do império. Essa divisão foi definida pelo arqueólogo alemão August Mau, no século XIX, e é ainda hoje aceita mais ou menos em consenso. É de observar, porém, que especialmente os estilos Terceiro e Quarto são objecto de muita controvérsia entre os historiadores da arte, pois suas características são compartilhadas em alguma extensão, tornando a identificação dos exemplos confusa e sujeita a interpretações individuais. O problema se torna mais complicado pela recuperação de arcaísmos e a sobreposição de tendências em fases tardias.
As obras de hábito não eram assinadas, mas uns poucos exemplos trazem nomes obscuros que os relatos literários não registaram como célebres em seu tempo. Entretanto, algumas personalidades artísticas estão sendo definidas pela pesquisa moderna em função de certos grupos de obras que parecem ter saído da mesma mão, ainda que seus nomes não sejam conhecidos e se os estude através de apelidos tirados das pinturas mais importantes que se lhe atribuem, como o "Pintor de Télefo", o "Pintor de Admeto", o "Pintor do Adônis ferido", e assim por diante. Os achados de pinturas romanas têm se multiplicado nos últimos tempos em vista do progresso das pesquisas arqueológicas, com vários exemplos descobertos em localidades distantes da capital, como na Alemanha, Hungria, França, Portugal e Ásia, e as evidências indicam que seu uso era generalizado, tanto para fins puramente decorativos e privados como públicos.

Cena da vida de Íxion, Casa dos Vettii, Pompéia

A Pintura romana está dividida em 4 estilos:
Primeiro Estilo
O Primeiro Estilo, também referido como cantaria ou incrustação - nome derivado de crustae, placas pétreas de revestimento - esteve em evidência do século II a.C. até o ano 80 d.C. e é em essência abstracta. Suas origens são obscuras, mas parece ter derivado da pintura empregada na decoração de templos e altares gregos, sendo adaptado para a decoração de residências em toda volta do Mediterrâneo na altura do fim do século IV a.C. Sobrevivem bons exemplos no sul da Rússia, no Oriente Próximo, na Sicília, França, Espanha, Cartago e no Egipto. Caracteriza-se pela imitação do efeito da cantaria, com aplicação de cores vivas sobre reboco dividido em áreas quadrangulares em relevo, simulando blocos de pedra e suas cores e texturas. Como as casas romanas possuíam poucas janelas para o exterior, as paredes internas tendiam a ser contínuas, e o Primeiro Estilo procura enfatizar essa unidade criando ambientes integrados. Na opinião de John Clarke a dependência do relevo de superfície para a eficiência visual desse estilo o torna antes um domínio da decoração arquitectónica do que da pintura propriamente dita.
Com o passar do tempo se acrescentaram frisos decorados com padrões florais, arabescos e figuras humanas, e outros elementos de arquitectura como colunas e cornijas simuladas. Na altura do século I a.C., esse tipo de decoração já havia desenvolvido no território romano uma complexidade e refinamento que o afastava enormemente de seus protótipos gregos. As áreas de cor começam a não mais obedecer ao desenho do relevo, ultrapassando suas bordas e gerando interessantes efeitos ilusionísticos. O interesse nas combinações de cores contribui para desvincular cada vez mais o estilo de sua origem estrutural, empregando tons jamais encontrados em pedras verdadeiras e padrões geométricos eminentemente decorativos que subvertem a lógica da arquitectura, o que encaminha para a formação do Segundo Estilo.
Detalhe de mural em Primeiro Estilo primitivo. Pompéia















 
Segundo Estilo
O Segundo Estilo, chamado arquitectónico, floresceu com relativa rapidez a partir do Primeiro em torno de 80 a.C., embora exemplos precursores datem desde o século III a.C. e se encontrem espalhados por uma larga região que vai da Etrúria à Ásia Menor, onde foi usado em palácios helenistas para exibir a riqueza dos grandes personagens. Seu primeiro exemplo italiano está na "Casa dos Grifos", em Roma, e seu aparecimento o coincide com o gosto pela ostentação desse período.
As ilusões em trompe l'oeil se tornam mais eficazes e variadas, com a multiplicação de elementos simulados de arquitetura, como colunatas, arquitraves, balaustradas, molduras, janelas e frisos, e aparecem padrões geométricos mais minuciosos e complicados. O efeito unificado e sólido das paredes do Primeiro Estilo se dissolve e as salas parecem se abrir para o exterior, oferecendo vistas de paisagens urbanas e jardins, evidenciando um uso bastante correto da perspectiva para dar a impressão de tridimensionalidade e acomodar os recessos visuais dos cantos dos aposentos. o coincide com o gosto pela ostentação desse período.
As grandes salas de reunião social e repasto são decoradas com eixos de visão preferenciais que formam cenários complexos concebidos a modo de criar um roteiro visual organizado hierarquicamente, geralmente com uma cena principal centralizada que se desdobra em cenas secundárias nas partes menos visíveis. Com o amadurecimento do estilo em torno do ano 60 a.C. esse plano programático foi ainda mais enfatizado.
 Com o Segundo Estilo se inicia a fase de maturidade da pintura romana, passando a desenvolver recursos técnicos, estéticos e simbólicos originais. A pintura do Segundo Estilo exigia a integração do trabalho entre arquitecto e decorador, pois o uso extensivo da perspectiva pintada podia anular ou desvirtuar o efeito da arquitectura real. O pintor devia saber manejar um grande repertório de técnicas para produzir uma ilusão convincente em painéis de grandes dimensões que cobriam aposentos inteiros num esquema unificado, e devia também conhecer os meios de representação pictórica de uma grande variedade de materiais e objectos inanimados, incluindo vasos de pedra e bronze, máscaras teatrais, fontes, ornamentos dourados e objectos de vidro.

A fase tardia do Segundo Estilo, a partir de c. 40-30 A.C., procede em direcção a uma simplificação, evitando a ostentação do luxo em favor de ambientes mais sóbrios, adequando-se à austeridade do governo de Augusto, não sem o protesto de alguns como Vitrúvio, que deplorava a substituição da sólida arquitectura anterior por modelos mais elegantes e leves, que incorporam formas animais, vegetais e figuras humanas, junto com arabescos, panóplias e ornamentos de carácter abstracto, miniaturizado e fantasioso, o que sugere influência oriental. Os afrescos da Villa da Farnesina e da Villa de Livia em Roma são dos últimos exemplos do Segundo Estilo, já numa transição para a fase seguinte.
Villa de Oplontis, Torre Annunziata



Afresco da Villa dos Mistérios, Pompéia


Terceiro Estilo
O Terceiro Estilo, ou ornamental, representa a continuidade do Segundo numa versão mais livre e ornamentada, mais leve e menos pomposa. Seus principais elementos constituintes reflectem um eclectismo comum a toda arte do período de Augusto, e incluem uma tendência plasticizante, um gosto pela cópia ou derivação de autores antigos gregos e helenistas, a influência da arte egípcia, e o florescimento do género da paisagem. As cenas em perspectiva já tendem a não "perfurar" as paredes, o efeito de profundidade é achatado, conferindo uma expansão virtual apenas modesta ao espaço real do ambiente. Proliferam os detalhes pequeninos e os motivos egípcios comemorando os triunfos de Augusto e Agripa no Egipto, aparecem cores escuras - algumas salas são completamente negras - e se desenvolve uma técnica metalinguística na representação de pinturas dentro de pinturas. Seus primeiros exemplos datam de c. 15 a.C., localizados na tumba-pirâmide de Caius Cestius em Roma, embora não sejam de grande qualidade. Amostras muito superiores estão numa villa possuída possivelmente por Agrippa Postumus em Boscotrecase, perto de Pompéia, mas sua datação é incerta, podendo ser posterior em muitos anos. Von Blanckenhagen considera os afresco da Farnesina o marco fundador do Terceiro Estilo, datando-os de c. 19 a.C., mas suas conclusões são controversas.
A minimização da importância da perspectiva arquitectural nesse período permitiu aos pintores uma divisão de trabalho - os mestres se responsabilizavam pelas cenas paisagísticas, enquanto as molduras arquitecturais ficavam a cargo de auxiliares subordinados, o que se reflectia também no salário que cada um recebia.
Enquanto antes se desenhavam complexos mosaicos figurativos e policromos no pavimento, que competiam visualmente com a pintura parietal e não faziam grande discriminação hierárquica entre as diferentes superfícies do aposento, agora a atenção se concentrava nas cenas pintadas em tetos e paredes, e passam a decorar os pisos com padrões geométricos simples em preto e branco ou cores discretas, que serviam como área de descanso visual e direccionavam o olhar para cima em vez de atraí-lo p. Por esta altura também o teatro estava ganhando rapidamente popularidade, e se encontram muitas composições mostrando atores em cena, enquanto os temas da vida popular igualmente se multiplicavam .O Terceiro Estilo floresceu até c. 25 d.C., quando iniciou uma transição de cerca de vinte anos para o Quarto Estilo. Nesse intervalo a perspectiva achatada voltou a dar lugar para ilusões mais marcantes de profundidade. As cenas se reduziram a pequenos painéis centralizados, emoldurados por elementos de arquitectura fantasiosa, mesmo extravagante e irracional, subdividida em áreas compartimentalizadas, enriquecida com novos motivos - guirlandas, candelabros, tirsos - elaborados num tratamento linear de grande atenção ao detalhe. Também importante no Terceiro Estilo foi a reafirmação da figura humana, que na fase seguinte seria grandemente explorada ara baixo.
Afresco na Villa della Farnesina, Roma. Segundo Estilo de transição para o Terceiro

Villa imperial, Boscotrecase


Quarto Estilo
Finalmente o Quarto Estilo apareceu por volta do ano 45 d.C. e, ainda mais do que seu precedente, só pode ser definido através da palavra eclectismo, recuperando elementos de estilos anteriores e elaborando sobre eles novas configurações. Algumas de suas características genéricas mais evidentes são uma inclinação para composições mais assimétricas, uma tendência para o uso de cores mais quentes e vivas, e um maior requinte, variedade e liberdade nas ornamentações. Além destas, as figuras são mais animadas, a técnica da pincelada ficou mais livre, com uso intensivo de tracejado para obter as sombras e os volumes, se aproximando de efeitos pontilhistas, e se populariza a simulação pictórica de tapeçarias através do uso de largas áreas de uma só cor com bordas e faixas ornamentais. Ling descreveu o Quarto Estilo como menos disciplinado e mais caprichoso do que os seus antecessores, sendo em seus melhores momentos delicado e deslumbrante, mas em mãos inábeis podia se tornar confuso e sobrecarregado. É o estilo do qual temos a maior quantidade de relíquias, e justamente pela abundância de evidências é a fase que podemos melhor estudar, mas sua evolução se torna difícil de esclarecer por causa de sua heterogeneidade. Alguns dos primeiros exemplos do Quarto Estilo, ainda em transição do Terceiro, podem ser vistos na Casa da Colunata Toscana e na Casa de Lucretius Fronto, em Herculano, e na Casa do Espelho e na Casa de Menandro, em Pompéia. Mais adiante se destacam as decorações da Casa de Netuno, a Casa dos Cupidos Dourados, a Casa dos Amantes, a Villa Imperial e a Casa dos Vettii em Pompéia, a basílica de Herculano e a Domus Aurea em Roma.



Casa dos Vettii, Pompéia
Retratos
Os retratos merecem um comentário à parte porque eram elemento importante no sistema religioso e social romano. O costume de retratar os mortos tinha longa tradição. Nos lararia das residências se instalavam efígies dos ancestrais como forma de homenagem perpétua, e nas procissões organizadas pelas elites os retratos de família apareciam em destaque, a fim de atestar sua linhagem patrícia. Estas efígies podiam ser esculpidas sob forma de bustos ou cabeças, modeladas em cera ou terracota como máscaras mortuárias, ou pintadas sobre medalhões e escudos, e costumavam apresentar detalhada caracterização fisionómica, fazendo crer que se tratasse de retratos fiéis. Quando se generalizou o uso dos enterramentos, substituindo as cremações dos mortos, esse tipo de imagem também passou a fazer parte dos contextos sepulcrais.

Retrato de dama, Egito


Biliografia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_da_Roma_Antiga

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